sexta-feira, 2 de julho de 2010

Sobre a morte e os jovens. Sobre a vida e as pessoas que tomam sorvete. Sobre os bichos de estimação e as mães que enterram seus filhos.

Ele se foi.
Simples assim... subiu na moto e nunca mais voltou.
Assim como aquele que mês passado saiu do trabalho direto para o cemitério.
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Eu sou do tempo em que amizades se faziam nos círculos de amizades dos pais. As minhas amigas e amigos eram filhos de amigos e conhecidos de minha mãe.
Guilherme morreu junto com Leonardo. O mesmo acidente vitimou ambos na mesma hora. Foram no mesmo rabecão para o IML. De lá, a mesma funerária preparou os corpos que chegaram ao mesmo velório juntos.
A família de Leonardo sofria a perda do filho no velório 1. A de Guilherme, no velório 2.
As famílias não se conheciam.
As famílias não se conheceram.
E enterraram seus filhos no mesmo horário, no mesmo cemitério.
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Enquanto voltava do velório pro trabalho, vi uma moça tomando sorvete e fiquei chocada com a constatação de que o mundo gira e a vida segue. Como é possível alguém ser feliz tomando sorvete enquanto uma mãe enterra um filho?
Nada mudou. Um jovem morreu. Uma mãe enterrou um filho. E a vida segue.
A vida de um ser humano deveria ser algo tão valioso que sua perda deveria ser motivo suficiente para parar o mundo... A morte de um Tancredo Neves pára o país. A morte de uma Princesa Diana pára o mundo. Mas a dor daquela mãe, ainda que incomensurável, não é nada além da dor de uma mãe. A morte de um filho não pára o mundo.
Afinal, morre-se tão fácil. São tantos filhos morrendo todos os dias, à toa, de bobeira, de graça. Bebida, drogas, velocidade, violência... Mais um, menos um, choro de mãe, não faz diferença no nosso mundo.
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Agora entendo por que somos tão criticados ao chorar e sentir a perda de um animal de estimação. Como as pessoas se indignam ao ver a dor que não queremos conter.
É que perdas humanas são tão corriqueiras e banais, que realmente soa como insulto chorar a perda de um animal...
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Meu mundo pára se meu bicho morre.
O mundo da dona Maria das Graças parou quando ela enterrou o Guilherme.
E as pessoas continuam  tomando sorvete.
É...

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